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14.3.10

O Pãozinho

por Silvio T Corrêa

Bem, começo essa crônica me transportando à minha adolescência – naquela época não tinha “aborrescência” – no Rio de Janeiro. Primeiro no Méier e depois na Tijuca.

Minha boca enche d´água ao lembrar dos pãezinhos franceses e da bisnaga. Crocante, macia e com uma bela orelha, que junto com o bico eram disputadíssimos. Aquilo era pão!

No Méier, a padaria era na Rua Coração de Maria esquina com Rua Castro Alves. Na Tijuca eram duas: uma na esquina da Rua José Higino com a Av. Conde de Bonfim e a outra, na mesma José Higino, esquina com a Rua Antônio Basílio. Claro, e a inesquecível São Sebastião na Praça Saens Peña.

Talvez digam que esqueci da Padaria Fidalda, mas sempre a tive “em alta” para os doces e salgadinhos, como a “falecida” Confeitaria Gerbô e a inigualável torta de caramelo e o risoles de queijo.

E o pãozinho careca? Que saudades! – Mas desse eu não vou nem falar pois, parece, nem no Rio existe mais.

Sempre tive o café da manhã como principal refeição. Nem tanto pelo alimento, mas pela presença de todos à mesa. Depois, era cada um para o seu lado. Mas o pãozinho francês, delicioso, sempre esteve presente e enaltecia a reunião matutina.

Aliás, pão sempre foi uma paixão minha. Tenho livros de como fazer pão, várias receitas, mas confesso que nunca “acertei” o pãozinho francês. Dizem que é por falta do spray de água que existe nos fornos industriais. Sei lá.

Portanto, eu me gabo em dizer, muito tranquilamente, que eu sei o que é um bom, belo e delicioso pão francês.

Dizem que o pão francês é português e no Rio, são raras as padarias que não são de portugueses. Em São Paulo, parece que começou com os italianos, mas os portugueses acabaram por tomar conta.

Quando vim morar em São Paulo – primeiro no interior e depois na Grande São Paulo – curti uma certa euforia por sempre ouvir falar das padarias “por aqui”. Só depois vim saber que “por aqui” também estavam os portugueses e suas padarias.

Em quinze anos vivendo no estado “locomotiva”, ainda não encontrei o pãozinho francês, com regularidade, que me desse prazer em comê-lo, saboreá-lo. Quando encontro, é porque o padeiro errou.

“Ah seu moço. Por aqui todos gostam de pão grande.” – Disseram e dizem as atendentes de padaria.

Não sei qual o prazer um comer um pãozinho francês grande, inchado, pesado, sem gosto e sem orelha. Sim, sem orelha – a chamada “assinatura do padeiro” –, só aquela superfície lisa, sem graça.

Até pensei que quando o pão passou a ser vendido por quilo, ao invés de unidade, que fosse melhorar. Nada! Parece que povo já estava viciado no pão inchado e sem graça.

O que parece, pela qualidade do pão – oco por dentro e casca quebradiça –, é que o tal do bromato continua a fazer das suas, se metendo sorrateiramente, na calada do descanso, na massa em repouso tranquilo.

As vezes, como em janeiro que passou, encontro uma padaria que deve ter instalado um sistema antibromato. O pão, em todo dia e a qualquer hora, sai do mesmo jeito. Com a mesma cara bonita, tamanho regular, apetitoso.

Encontrei em Itatiaia, uma das últimas cidades fluminenses da Dutra, antes da divisa. Não pestanejei. Comprei 30 pães e trouxe para congelar. A diferença é tão grande que mesmo depois de 4 horas de viagem, com o sol batendo forte, o pão chegou melhor do que o fresquinho, ao lado de casa.

Tenho pensado em investir numa padaria ou num forno de padaria, só para comer um pão francês que preste, ou então vou fazer como o americano e comer, apenas, pão de hambúrguer.

diHITT - Notícias